Dia Mundial da Conscientização do TDAH (13/07): Transtorno ainda é pouco compreendido e diagnóstico correto segue sendo desafio, alerta psiquiatra
Transtorno afeta crianças, adolescentes e adultos, mas ainda é cercado por estigmas, diagnósticos tardios e desinformação
São Paulo, julho de 2025 – Cada vez mais presente nas conversas do dia a dia e até mesmo nas redes sociais, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ainda é cercado por desinformações, preconceitos e diagnósticos equivocados. O que muitos ainda tratam como uma fase, preguiça ou traço de personalidade é, na verdade, um transtorno do neurodesenvolvimento que pode afetar profundamente a vida de crianças, adolescentes e adultos quando não identificado e acompanhado de forma adequada.
“O TDAH é uma condição com base biológica e genética, que afeta a capacidade de manter o foco, de regular os impulsos e, em alguns casos, de conter a hiperatividade. Não é falta de educação, nem falta de esforço. É um cérebro que funciona de forma diferente”, explica a psiquiatra Carla Vieira, do CAPS Infantojuvenil M’Boi Mirim, unidade gerenciada pelo CEJAM (Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”), em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS-SP).
Segundo a especialista, os sintomas costumam surgir ainda nos primeiros anos de vida e acompanhar o indivíduo em diversas fases. Na infância, são mais visíveis sinais como agitação, impulsividade e dificuldades escolares. Na adolescência, a hiperatividade tende a se tornar mais interna, e problemas de organização e impulsividade nas decisões ganham espaço. Já na vida adulta, o que predomina é a desatenção, desorganização e a dificuldade em manter uma rotina funcional.
“Muitos adultos que atendo só percebem que têm TDAH depois que os filhos são diagnosticados. Eles começam a se identificar com os sintomas e entendem que a vida inteira lutaram contra algo que nunca souberam nomear.”
Mesmo com todos esses sinais, o diagnóstico pode passar despercebido por anos. Em especial no caso das mulheres, que muitas vezes apresentam o tipo predominantemente desatento, sem a agitação que costuma chamar atenção. “Essas meninas acabam sendo rotuladas como distraídas, sonhadoras, desorganizadas. E crescem tentando se adaptar, sem saber que há um motivo para suas dificuldades”, afirma a psiquiatra.
O diagnóstico do TDAH é clínico, feito com base em entrevistas detalhadas, uso de escalas validadas e exclusão de outras causas para os sintomas. Apesar de os conteúdos nas redes sociais contribuírem para aumentar a conscientização, Carla alerta para os riscos do autodiagnóstico. “Identificar-se com um vídeo não é o mesmo que ter TDAH. A avaliação precisa ser feita por um profissional capacitado, que leve em conta a frequência, a intensidade e o impacto real dos sintomas na vida da pessoa.”
De acordo com a médica, os impactos do transtorno vão além da atenção ou da agitação. O TDAH pode comprometer a saúde emocional e física do paciente, levando à baixa autoestima, ansiedade, depressão, distúrbios do sono e até comportamentos de risco. Além disso, costuma coexistir com outras condições, como transtornos de aprendizagem, uso de substâncias e dificuldades de relacionamento.
O tratamento, quando necessário, é individualizado e pode envolver diferentes abordagens. Medicamentos estimulantes são amplamente utilizados, mas não são a única via. “A terapia cognitivo-comportamental, as mudanças de estilo de vida e a psicoeducação são pilares fundamentais. O tratamento não é uma receita única. Ele precisa ser ajustado à realidade de cada paciente”, explica .
Para a psiquiatra, o maior obstáculo ainda é a falta de acesso ao diagnóstico e tratamento adequado. Ela ressalta a importância de investir na formação de profissionais e no fortalecimento da conexão entre saúde e educação. “Ainda vemos muitas crianças sendo rotuladas como ‘difíceis’ na escola, sem receber o suporte necessário. Precisamos capacitar professores, estruturar planos de ensino individualizados e criar pontes entre as equipes pedagógicas e os profissionais de saúde.”
Outro desafio, segundo ela, é o combate ao preconceito. “Ouço muito no consultório que TDAH é desculpa, que é invenção da indústria farmacêutica, que é falta de esforço. Isso machuca e atrasa o tratamento. Precisamos entender que não se trata de falta de vontade, e sim de uma condição legítima, reconhecida pelas principais entidades de saúde do mundo.”
A médica reforça que, com o diagnóstico correto, acompanhamento apropriado e empatia, é possível garantir mais qualidade de vida e autonomia para quem convive com o transtorno. “O TDAH não define uma pessoa, mas compreender como ele funciona pode mudar completamente sua trajetória. A informação é o primeiro passo para isso.”
Sobre o CEJAM
O CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” é uma entidade filantrópica e sem fins lucrativos. Fundada em 1991, a Instituição atua em parceria com o poder público no gerenciamento de serviços e programas de saúde em São Paulo, Rio de Janeiro, Mogi das Cruzes, Campinas, Carapicuíba, Barueri, Franco da Rocha, Guarulhos, Santos, São Roque, Ribeirão Preto, Lins, Assis, Ferraz de Vasconcelos, Pariquera-Açu, Itapevi, Peruíbe e São José dos Campos.
A organização faz parte do Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde (IBROSS), e tem a missão de ser instrumento transformador da vida das pessoas por meio de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde.
O CEJAM é considerado uma Instituição de excelência no apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS), tendo conquistado, em 2025, a certificação Great Place to Work. O seu nome é uma homenagem ao Dr. João Amorim, médico obstetra e um dos fundadores da Instituição.
No ano de 2025, a organização lança a campanha "365 novos dias de saúde, inovação e solidariedade", reforçando seu compromisso com os princípios de ESG (Ambiental, Social e Governança).
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