Educação menstrual é educação básica
18/06/2025 18:52
Mesmo em pleno século 21, falar de menstruação com crianças e adolescentes ainda causa desconforto em muitos adultos. As consequências são meninas chegando à puberdade sem saber o que está acontecendo com seus corpos, inseguras e despreparadas para lidar com um processo biológico previsível.
Ignorar esse tema perpetua a desinformação e os problemas de saúde. Ciclos menstruais fazem parte do desenvolvimento feminino, e entendê-los é uma questão de educação básica, assim como ensinar sobre alimentação ou higiene.
Há grande ausência de repertório positivo sobre menstruação no ambiente familiar e escolar. Por isso, histórias são ferramentas eficazes. Livros e narrativas simbólicas ajudam as crianças a compreender, sem medo ou vergonha, crescendo com mais segurança e menos dependência de informações distorcidas.
O silêncio que ainda existe em torno da menstruação dificulta o desenvolvimento emocional e a saúde de quem um dia terá de lidar com isso. Falar sobre o corpo feminino com naturalidade fortalece a sociedade.
A forma como as mulheres se relacionam com seus ciclos impacta diretamente sua autoestima e a maneira como se colocam no mundo. Relações negativas com a menstruação são reflexo de uma cultura que, durante séculos, invisibilizou o corpo feminino, inclusive na ciência.
Por anos, os ciclos hormonais femininos foram ignorados em pesquisas médicas. Essa omissão consolidou a ideia de que o corpo masculino é o padrão e o corpo da mulher é uma exceção instável. Isso ainda influencia a forma como as mulheres são vistas, diagnosticadas e tratadas.
O ciclo é uma característica biológica legítima e compreendê-lo é o primeiro passo para uma convivência mais justa. Abrir espaço para essa conversa na sociedade é urgente. Preparar as meninas para a menarca com consciência e acolhimento é também ensinar as próximas gerações a reconhecer o valor da mulher. Quando a infância aprende a respeitar o corpo feminino desde cedo, a sociedade inteira se torna mais capaz de construir vínculos mais saudáveis, mais justos e mais humanos.
*Berenice V.S. Meurer é fisioterapeuta pélvica especializada em sexualidade humana e autora do livro “O diário de Adelaine”, um conto inspirador sobre os ciclos femininos e as fases de vida da mulher