Entre o amor e a vingança: romance de época revela as dores e curas da alma humana

29/07/2025 22:15

Em "Uma lua de amor", Paula Toyneti Benalia conduz o leitor por uma jornada emocional repleta de traumas, conflitos sociais e redenção afetiva

Com narrativa intensa e ambientação na Londres do século XIX, Uma lua de amor mergulha nas sombras da vingança para revelar, aos poucos, o poder curativo do afeto. No centro da trama estão Gabriel, um duque arruinado e movido pelo rancor, e Isabel, a jovem sonhadora que, mesmo em meio a um sequestro e às convenções de uma sociedade opressora, é capaz de transformar dor em empatia.

Nesta entrevista, Paula Toyneti Benalia fala sobre o equilíbrio entre luz e escuridão na construção da trama, o uso da psicologia para compor personagens femininas profundas e os desafios de narrar uma história em primeira pessoa sob múltiplas perspectivas. A autora reflete ainda sobre os bastidores da sociedade vitoriana e a complexidade dos sentimentos humanos — que, em sua obra, coexistem em suas formas mais contraditórias e verdadeiras.

  1. "Uma lua de amor” mergulha na escuridão da vingança antes de revelar o poder transformador do amor. Como foi o processo de equilibrar esses dois elementos na trama?

R: Equilibrar a escuridão da vingança com a luz transformadora do amor foi um dos maiores desafios — e um dos aspectos mais ricos — de "Uma lua de amor". Desde o início, a ideia era mostrar como sentimentos intensos como dor, mágoa e desejo de vingança podem consumir uma pessoa, mas também como o amor, em suas formas mais verdadeiras, tem o poder de curar e redirecionar. O processo envolveu construir personagens complexos, que não fossem nem totalmente bons nem completamente maus, e acompanhar suas jornadas de transformação. Ao longo da trama, os momentos de tensão e conflito são contrabalançados por pequenas revelações de afeto, empatia e perdão. Foi essencial permitir que o amor surgisse de maneira gradual e convincente, para que a mudança não parecesse forçada, mas sim uma consequência natural da convivência e da superação de traumas. No fim, a mensagem é clara: mesmo nas noites mais escuras, a luz do amor pode encontrar um caminho.

  1. A obra carrega uma forte crítica ao papel restrito das mulheres na época em que a história se passa. Como sua formação em psicologia influenciou a construção das personagens femininas nesse contexto histórico?

R: Minha formação em psicologia teve um papel fundamental na construção das personagens femininas dentro do contexto restritivo do século XIX. Entender os mecanismos psíquicos por trás da repressão, da identidade e da resistência me permitiu criar mulheres com profundidade emocional e conflitos internos realistas. Em uma época em que o papel da mulher era rigidamente definido — limitado ao lar, à obediência e ao silêncio —, procurei explorar como essas personagens lidavam com desejos próprios, frustrações e o anseio por autonomia. A psicologia me ajudou a pensar não apenas nas ações das personagens, mas também nos seus pensamentos, traumas e estratégias inconscientes de enfrentamento. Algumas se rebelam abertamente, outras encontram formas mais sutis de resistir, mas todas carregam essa tensão entre o que a sociedade espera delas e quem elas realmente são. Foi essencial dar a essas mulheres não só voz, mas também camadas — para que suas decisões fizessem sentido tanto dentro do contexto histórico quanto do ponto de vista emocional.

  1. Você utiliza uma narrativa em primeira pessoa, alternando entre os pontos de vista dos personagens. Quais são os desafios e benefícios de escrever dessa forma, especialmente em um romance de época?

R: Optar por uma narrativa em primeira pessoa, alternando entre os pontos de vista dos personagens, foi uma escolha deliberada para aproximar o leitor das emoções mais íntimas de cada um. Em um romance de época, esse recurso se torna ainda mais poderoso, porque permite mostrar como os personagens percebem e reagem a um mundo cheio de normas sociais rígidas, especialmente no século XIX.  O maior desafio foi manter a autenticidade das vozes. Cada personagem tem uma vivência, uma bagagem emocional e uma visão de mundo diferentes — e era fundamental que isso se refletisse na linguagem, nos pensamentos e nas atitudes narradas. Evitar que as vozes soassem repetitivas ou modernas demais para o período exigiu muita pesquisa e sensibilidade. Por outro lado, o grande benefício dessa abordagem é justamente a profundidade emocional. O leitor não vê apenas os fatos, mas também como cada personagem os interpreta, o que gera empatia e compreensão até mesmo pelos atos mais controversos. Essa alternância também permite explorar contrastes — como a forma como homens e mulheres viam o amor, o dever e a liberdade — dentro do mesmo contexto histórico.

  1. A ambientação vitoriana aparece com destaque — escândalos, reputações abaladas, casamentos por conveniência. Como foi a sua pesquisa para recriar esse ambiente social e suas tensões de gênero?

R: A recriação da ambientação vitoriana foi um processo cuidadoso e, ao mesmo tempo, fascinante. Mergulhei em livros de história, romances da época, diários pessoais, cartas e até registros jurídicos para entender não só os costumes e a etiqueta, mas também as tensões sociais, políticas e, principalmente, de gênero que marcavam aquele período. O que mais me interessava era o contraste entre a aparência de moralidade e controle — tão valorizada pela sociedade vitoriana — e o que acontecia nos bastidores: escândalos abafados, desejos reprimidos, mulheres silenciadas. Ao compreender essas camadas, consegui construir um cenário em que as escolhas dos personagens ganham muito mais peso, porque estão sempre em confronto com um sistema social opressor. Também foi essencial entender como funcionavam os casamentos por conveniência, as normas sobre reputação e honra, e as consequências de transgressões sociais — especialmente para as mulheres. Isso tudo permitiu que eu criasse não apenas um pano de fundo histórico verossímil, mas também personagens que se movem dentro dele com autenticidade e complexidade emocional.

  1. O texto sugere que o sentimento de vingança pode caminhar lado a lado com o amor. Há uma mensagem específica que você deseja transmitir ao leitor ao explorar essa dualidade emocional?

R: Sim, ao explorar a dualidade entre vingança e amor, a intenção foi mostrar o quanto as emoções humanas são complexas e, muitas vezes, contraditórias. O sentimento de vingança geralmente nasce de uma dor profunda — e é justamente nessa dor que o amor também pode germinar, porque ambos os sentimentos envolvem intensidade, apego e, de certo modo, vulnerabilidade. A mensagem que desejo transmitir é que ninguém é feito de sentimentos puros ou isolados. Uma mesma pessoa pode amar e odiar, desejar justiça e, ao mesmo tempo, perdoar. O importante é o que ela faz com esses sentimentos. Ao longo da história, os personagens precisam confrontar essas emoções e fazer escolhas que revelam quem realmente são. Quis mostrar que o amor verdadeiro não ignora a dor, mas pode transformá-la. E que perdoar — ainda que difícil — não é esquecer ou se submeter, mas libertar-se do controle que o passado exerce sobre o presente. No fim, a obra convida o leitor a refletir sobre o poder da empatia, da escuta e da reconstrução emocional, mesmo em meio à escuridão.

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Sobre a autora: Paula Toyneti Benalia é psicóloga e escritora, apaixonada por desvendar a alma humana e criar histórias que emocionam. Iniciou sua trajetória literária em 2016 e, desde então, publicou 11 livros por diversas editoras. Seu maior sucesso é a série “As Deusas de Londres”, best-seller da Amazon com 3 milhões de páginas lidas. Em 2024, uniu sua formação em psicologia à escrita no livro de não ficção “A lógica da infelicidade”. Agora, publica Uma lua de amor pela editora The Gift Box.

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Instagram: @paula_benalia