Exibidores defendem regulamentação da janela cinematográfica
Exibidores defendem regulamentação da janela cinematográfica
Prazo maior para a chegada de filmes no streaming é essencial para a sobrevivência das salas de cinema e a sustentabilidade do setor audiovisual
A regulamentação da Janela Cinematográfica, ou seja, o intervalo entre a estreia de um filme nos cinemas e sua disponibilização nas plataformas de streaming, é uma discussão que há muito se estende no Brasil. Com títulos sendo lançados nas plataformas em menos de 50 dias após a estreia nas telonas, representantes do parque exibidor alertam para o desequilíbrio entre os elos da cadeia do audiovisual e pedem a adoção de políticas que garantam a sobrevivência das salas e a sustentabilidade do ecossistema audiovisual.
“Historicamente, sempre existiu a janela de lançamento, com um prazo longo até que os filmes fossem para as locadoras, por exemplo. Mas o que se vê hoje é uma redução drástica nesse período, intensificada pelo streaming e pela pandemia. Um exemplo recente foi Homem com H, que ainda apresentava boa performance, com mais de 600 mil espectadores nas salas de cinema desde o lançamento, e foi liberado nas plataformas apenas 47 dias após sua estreia. Mas temos casos ainda mais graves, em que o lançamento nas plataformas impediu a continuidade da exibição nas salas de cinema. Isso nunca havia ocorrido antes e representa uma séria ameaça ao equilíbrio da indústria. Não podemos nos esquecer de que a exibição nas telonas é a primeira janela - e está diretamente relacionada com o sucesso ou não de um filme”, comenta Marcos Barros, presidente da ABRAPLEX, Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex.
Títulos como “O Auto da Compadecida 2” e “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”, ambos produzidos com recursos públicos federais, tiveram sua permanência nos cinemas encurtada ou encerrada após a ida precoce ao streaming, com o primeiro permanecendo apenas 65 dias em cartaz.
Para a ABRAPLEX, proteger a janela de exibição é uma medida estratégica para todos os segmentos do setor: produtores, distribuidores, plataformas e público. Além de garantir a adequada rentabilização das obras audiovisuais, brasileiras e estrangeiras, a janela é fundamental para mitigar a pirataria, estimular o boca a boca e maximizar a performance futura dos títulos.
“Quando pensamos em filmes nacionais, isso se torna ainda mais urgente e estratégico. Há um desequilíbrio claro entre as as cotas de tela que nós, exibidores, precisamos cumprir e as janelas cada vez menores. Somos obrigados a reservar espaço para produções brasileiras, mas os filmes muitas vezes não permanecem tempo suficiente em cartaz para formar público”, complementa.
“Não teríamos o sucesso de ‘Ainda Estou Aqui’, com mais de 5,7 milhões de espectadores no Brasil, se não tivéssemos preservado o parque exibidor. A performance inicial nos cinemas impulsiona o valor do filme nas outras janelas, inclusive no streaming. É um ciclo interdependente”, reforça Marcos Barros.
O executivo destaca, ainda, que, apesar da recuperação gradual, os indicadores do setor cinematográfico ainda não voltaram ao patamar de 2019, e talvez nunca retornem. A taxa de salas por habitante no Brasil segue baixa, o endividamento do setor persiste e a renda e público das salas, embora em trajetória positiva, ainda reflete perdas acumuladas, com público em 2024 inferior a 30% do registrado em 2019.
Há hoje em tramitação o Projeto de Lei do streaming, que inclui a janela cinematográfica e conta com emenda do deputado Mersinho Lucena (PP-PB) propondo a manutenção de 180 dias de intervalo entre o lançamento nas salas de cinema e a ida para as plataformas. Relatório da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), no entanto, sugere a redução para nove semanas.
“O prazo de 180 dias é baseado na legislação francesa em que há, sim, a possibilidade de diminuição da janela como contrapartida para quem investe nas produções nacionais, mas o mínimo de intervalo entre o lançamento e a ida dos títulos para as plataformas não fica abaixo, nem nesses casos, dos 120 dias. Essa é a maneira mais eficaz de garantir que os filmes tenham tempo de alcançar seu público nas salas, principalmente os de boa sustentação, ou seja, que seguem atraindo a atenção do público mesmo após algumas semanas em cartaz. E hoje no Brasil a média é de apenas 45 dias”, conclui Barros.
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