Faustão teve prioridade técnica em novo transplante. Especialistas explicam o motivo
Com quatro transplantes realizados nos últimos dois anos, o apresentador seguiu os critérios previstos pelo SUS, incluindo prioridade técnica para pacientes com falência hepática após transplantes anteriores. Especialistas explicam quando o fígado falha, como funciona a fila para transplante e os avanços que aumentam as chances de sucesso.
O transplante de fígado realizado em Fausto Silva, desperta muitas dúvidas da população: como funciona o sistema de transplantes no Brasil, o que leva um paciente a precisar de um novo órgão em um curto intervalo de tempo, e quais os cuidados e avanços que têm ampliado as chances de sucesso.
De acordo com a Dra. Patrícia Almeida Hepatologista, do Hospital Israelita Albert Einstein, existem diversas situações clínicas que podem levar a uma falência hepática súbita, mesmo quando o paciente vinha apresentando estabilidade. “Isso pode acontecer, por exemplo, após o uso de medicamentos tóxicos ao fígado, infecções graves, hepatites agudas ou ainda em quem já convive com uma doença hepática crônica, mas sofre uma descompensação aguda”, explica.
No caso específico de pacientes que já passaram por transplantes anteriores de órgãos sólidos, como rim ou coração, o fígado pode sofrer impacto ao longo do tempo por alterações metabólicas, uso intensivo de medicações e intercorrências do pós-operatório. Quando essas complicações levam à perda da função hepática e o órgão transplantado anteriormente segue funcionando bem, os protocolos técnicos do Ministério da Saúde garantem a esses pacientes prioridade na fila como medida para proteger a sobrevida e o sucesso do transplante anterior.
O Brasil é hoje uma referência global em transplantes de fígado, com taxas de sobrevida entre 80% e 90% no primeiro ano, graças à atuação de equipes multidisciplinares e ao avanço de técnicas cirúrgicas e medicamentosas. “Temos visto uma evolução significativa nos últimos anos, com o uso de fígado de doadores vivos, a divisão de um fígado para beneficiar mais de um paciente, novos protocolos de preservação dos órgãos e o uso mais racional de imunossupressores, o que permite menos efeitos colaterais e maior controle de rejeições”, afirma a Dra. Patrícia.
A fila de transplantes no Brasil é única, auditada e regida por critérios rigorosos que levam em consideração o tipo sanguíneo, a gravidade do quadro clínico (calculada pelo escore MELD), e outras variáveis como tamanho do órgão e tempo de espera. Segundo Dra. Lilian Curvelo Hepatologista, também do Hospital Israelita Albert Einstein, esse modelo é um dos mais respeitados do mundo pela sua transparência e por não distinguir pacientes da rede pública ou privada. “Ninguém fura a fila. Todos seguem o mesmo sistema informatizado, validado por dados clínicos e acompanhado por centrais de transplante de cada estado”, explica.
As principais causas de indicação para transplante de fígado no país envolvem cirrose hepática avançada, hepatite viral, hepatite alcoólica, doença hepática gordurosa relacionada à obesidade e diabetes, doenças autoimunes e câncer primário de fígado. Casos mais raros, como doenças genéticas ou metabólicas, também podem levar à necessidade do transplante.
O pós-operatório exige acompanhamento rigoroso, uso contínuo de medicações imunossupressoras, vigilância contra infecções e complicações vasculares e biliares. Em situações graves, como o não funcionamento primário do órgão ou trombose das artérias hepáticas, um novo transplante pode ser necessário com prioridade máxima, respeitando as diretrizes estabelecidas para casos urgentes.
“O transplante não é apenas uma cirurgia, é um tratamento complexo que envolve uma jornada longa, disciplinada e multidisciplinar. Felizmente, o Brasil conta com centros de excelência e uma estrutura sólida que permite oferecer esse cuidado com segurança e eficiência”, finaliza a Dra. Lilian.
Dra. Patrícia Almeida
CRM SP 159821
- Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (2010)
- Residência Médica em Clínica Médica no Hospital Geral Dr César Cals em Fortaleza-CE- (2011-12)
- Residência em Gastroenterologia no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo-(USP RP) (2013/15)
- Aprimoramento em Hepatologia no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP RP)- (2016)
- Aprimoramento em Transplante de fígado no Hospital das clínicas da Universidade de São Paulo (USP RP) (2017)
- Observership no Jackson Memorial Hospital em Miami/EUA 2017
- Doutorado em Hepatologia no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo
- Título de Especialista em Gastroenterologia pela FBG Título em Hepatologia pela SBH
- Hepatologista do Hospital Israelita Albert Einstein
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DRA. LILIAN CURVELO Gastroenterologista e Hepatologista
CRM 78.526/SP
RQE 84418
Formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com especialização e doutorado em Gastroenterologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e pós-doutorado em transplante de fígado pela Universidade Erasmus-MC na Holanda.
Há mais de 25 anos dedica-se ao estudo, diagnóstico e tratamento clínico das doenças do aparelho digestivo e do fígado.