Superman & Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado: nostalgia ou crise? Questiona o diretor Thiago Carvâlhonts

02/08/2025 12:38

Diretor brasileiro em Los Angeles vê uma crise de criatividade na indústria do cinematrográfica

Los Angeles, 01 de agosto de 2025 –  O diretor, ator e humorista Thiago Carvâlhonts, responsável pelo Conservatório de Artes Performáticas de Los Angeles e mentor de talentos brasileiros no mercado hollywoodiano, desafia o status quo da indústria cinematográfica global com sua nova reflexão sobre o presente do cinema.

Em artigo contundente e provocador, Carvâlhonts analisa críticas recentes lançadas por produções como Superman — dirigido por James Gunn — e a tentativa nostálgica de resgatar Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado. Com quase R$ 3 bilhões arrecadados globalmente (Superman já supera os US$ 500 milhões), Carvâlhonts questiona: nostalgia vende, mas sem risco temos bons filmes?
 
Com sólidos números de bilheteria, Superman manteve-se firme no topo, acumulando mais de US$ 500 milhões globalmente e arrecadando cerca de US$ 125 milhões nos EUA em seu fim de semana de estreia — segundo fontes recentes Já Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, lançado pouco depois, estreou com US$ 118 milhões nos EUA e US$ 218 milhões no total mundial demonstrando que o público segue consumindo nostalgia com força, ainda que o filme de Carvâlhonts trate de outro clássico do terror juvenil.
 
Por mais contraditório que pareça, estamos vivendo uma era de abundância cinematográfica… sem cinema de verdade. Em pleno 2025, Hollywood parece ter se transformado numa fábrica de nostalgia — uma máquina movida a reciclagem de ideias que, há décadas, já haviam cumprido seu ciclo. O recente aceno à “Era de Ouro” do Superman, agora nas mãos de James Gunn, ou a tentativa desastrosa da Disney de modernizar clássicos como Branca de Neve em live-action, são só sintomas de uma indústria que perdeu o fôlego criativo.
 
Vivemos o colapso de um modelo que não dialoga mais com as novas gerações. O cinema, antes território de ousadia e inovação, foi domesticado por CEOs e comitês de marketing. Estúdios bilionários se agarram desesperadamente a franquias consagradas, apostando que os millennials — aqueles que viveram a era das locadoras, das maratonas de VHS e dos DVDs riscados — irão passar adiante essa paixão quase arqueológica aos seus filhos e sobrinhos. Spoiler: não estão.
 
A nova geração, hiperconectada e mais atenta ao mundo que a rodeia, simplesmente não compra mais esse pacote mal disfarçado de novidade. Não é sobre ter “mensagens políticas” — afinal, Robocop (1987), de Paul Verhoeven, era um tapa na cara do neoliberalismo e O Vingador do Futuro (1990) não escondia sua crítica à exploração corporativa — é sobre a forma como essas mensagens são entregues: engessadas, didáticas, muitas vezes oportunistas. Falta coragem. Falta metáfora. Falta... cinema.
 
O caso de Matrix Resurrections (2021) é emblemático. Ao invés de expandir o universo criado pelas irmãs Wachowski, o filme soou como uma paródia de si mesmo, uma carta de despedida cínica e sem fôlego. Cineastas parecem reféns de fórmulas, de fã-clubes barulhentos no Twitter, de algoritmos e de exigências corporativas. Criar virou um ato de equilíbrio entre agradar a “fanbase”, entregar números para investidores e manter uma “relevância social” que mais parece um briefing de assessoria de imagem do que arte em si.
 
Enquanto isso, o novo definha. Grandes estúdios não investem em ideias originais, preferindo explorar IPs (propriedades intelectuais) testadas. Tenet (2020), de Christopher Nolan, e Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022), dos Daniels, surgem como exceções que confirmam a regra — arriscados, barulhentos, sim, mas cada vez mais raros.
 
O resultado? Um mercado sufocado por sua própria ganância, desconectado da cultura jovem, e refém de um passado que insiste em não morrer. Nos tornamos urubus da memória afetiva, espremendo até a última gota de franchises como Star Wars, Indiana Jones ou Ghostbusters, sem qualquer intenção real de renovação.
 
O cinema — esse espaço mágico de imaginação e crítica — vive hoje sob uma mordaça: a da lógica financeira, dos nichos ideológicos, e da covardia criativa. Até que surjam novos cineastas com espaço para errar, ousar e surpreender, continuaremos assistindo ao remake do remake daquilo que, um dia, já foi arte.
 
Instagram: @thiago.carvalho.nts
IMDB: Thiago Carvâlhonts
 
 
 
Sobre Thiago Carvâlhonts:
 
Paulistano, 36 anos, após passagem na produção “A vida secreta dos casais” da HBO/MAX, entre diversas participações na Globo e Record se mudou do Brasil e atualmente é Diretor do Conservatório de Artes Performáticas de Los Angeles, Carvâlhonts tem o maior projeto de ensino a distância (EAD) de atuação no Brasil, com mais de 600 alunos. Ele também é um dos principais mentores de talentos brasileiros no mercado hollywoodiano, ajudando novos artistas a ingressarem na indústria de forma estruturada e meritocrática. Com três novos projetos de longa-metragem no Brasil e duas produções previstas em Los Angeles para 2025, ele segue moldando o futuro do cinema independente.